Revista Sísifo – Feira de Santana – (2014-) nº 13 janeiro/julho 2021 Filosofia – Periódicos ISSN: 2359-3121 |
APRESENTAÇÃO
Dossiê
Ética, Política e Retórica no Renascimento
Apresentação
A proposta dessa edição da Revista Sísifo é reunir resultados de pesquisas sobre “Ética, Política e Retórica no Renascimento”. A escolha por esses temas deve-se à reconhecida importância que eles ocupam no horizonte de preocupações e interesses dos pensadores do Renascimento, os humanistas. Assim chamados graças à sua peculiar formação forjada no interior dos studia humanitatis – centros de estudos e difusão das obras da cultura clássica –, é através desses espaços que os humanistas irão aos poucos constituir uma comunidade linguística e literária de larga abrangência social, política e cultural. Nesse sentido, os campos da ética, da política e da retórica, assim integradas nos estudos humanísticos, se apresentam notadamente como portas de entrada a todos os interessados na compreensão do variado universo da Filosofia do Renascimento. O dossiê reúne uma entrevista, nove artigos, um ensaio e duas traduções.
Na entrevista com o professor Newton Bignotto, um dos mais importantes estudiosos brasileiros da filosofia do Renascimento, ele comenta sua trajetória intelectual e seus imbricamentos com os debates políticos de nosso tempo. Os primeiros artigos discutem a obra de Maquiavel. Luiz Carlos Braga trata do tema dos humores alinhavando-os aos conceitos de desejo e apetites. Lida com a relação entre “grandes” e “povo”, em direção ao grande tema maquiaveliano da divisão civil. Igor Fontes e Flávia Benevenuto, em um texto a quatro mãos e percorrendo as principais obras políticas de Maquiavel, investigam o vínculo entre o processo de corrupção da república e o surgimento das facções. Almejam indicar como o processo de corrupção pode culminar numa guerra de facções que teria, por consequência, a ruína do vivere libero. Nilo Henrique Neves dos Reis debruça-se principalmente sobre a Mandrágora de Maquiavel, no intuito de corroborar a afirmação de que os escritos literários, principalmente no que toca aos personagens e suas ações, têm algum vínculo com a perspectiva política de Maquiavel. Já Bruno Santos Alexandre, volta-se à recepção das obras de Maquiavel nos tempos atuais, buscando aprofundar o debate metodológico a partir das distinções entre as leituras de John Pocock e Quentin Skinner. Sem dúvida, um debate fundamental para o diálogo contemporâneo em torno dos temas maquiavelianos.
Sergio Xavier Gomes de Araujo parte da importância do elogio de Montaigne da vida solitária, em Da Solidão, para a constituição de um modelo de vida ativa, relacionados às lições de Maquiavel. Para tanto, ressalta as recorrências ao ethos de Montaigne ou ao seu autorretrato, revelando como eles se ligam a outros capítulos e ensaios mais propriamente políticos do autor. Ana Carolina Mondini se dedica à obra de Michel de Montaigne. Investiga o diálogo do autor com a obra de Quintiliano no ensaio Da educação das crianças. Dessa análise, faz emergir a disputa clássica que envolve a Arte Retórica e a Filosofia, com o objetivo de repor o lugar da imaginação e do intelecto no contexto dessa discussão.
Eugênio Mattioli Gonçalves caracteriza o que teria sido, no Renascimento, o “retorno do estoicismo”, marcado pela influência cristã. O artigo discute o papel que o humanista atribui à ação humana, frente ao determinismo originalmente proposto pelos antigos. Silvio Gabriel Serrano Nunes analisa aspectos do constitucionalismo e da retórica de John Knox e Théodore de Bèze. Evidencia, por um lado, como Knox se serve do gênero judiciário e deliberativo para acusar o governo de mulheres e a restauração da “idolatria”, promovida por Maria Tudor. E, por outro, como Bèze usa o gênero judiciário e deliberativo para defender as prerrogativas dos magistrados e para aconselhar a nobreza a exercer suas funções constitucionais. Elaine Cristine Sartorelli se dedica a evidenciar que o antipedobatismo e o antitrinitarismo do século XVI são consequências, por assim dizer, lógicas das investigações filológicas realizadas por Erasmo. Elas representam a radicalização de algo existente de forma seminal no humanista, como produto de uma mentalidade típica de início da Idade Moderna.
No ensaio-acadêmico de Ana Letícia Adami, assistimos às reviravoltas da pesquisadora sobre si mesma na leitura da obra De Libero Arbitrio de Lorenzo Valla, a fim de compreender como o humanista se posiciona contra Boécio (século VI) e a Filosofia, a favor da Retórica e do livre-arbítrio. Por fim, contamos com traduções de obras de dois pensadores do Renascimento. Adriano Scatolin traduziu passagens do Cicero Novus de Leonardo Bruni em que o florentino relata o período do consulado de Cícero, dando-nos a entrever a sua posição sobre o tema no diálogo com os antigos. Maria Célia Veiga França traduziu Da República dos Turcos de Guillaume Postel. Trata-se de trechos de um interessante relato de viagem do filólogo francês, em que nos dá a conhecer suas impressões acerca dos costumes e religiões orientais.
Flávia Benevenuto
Ana Letícia Adami
Organizadoras
Dossiê Ética, Política e Retórica no Resnascimento
Apresentação
Flávia Benevenuto, Ana Letícia Adami
Entrevista: Newton Bignotto
Ana Letícia Adami, Flávia Benevenuto, Newton Bignotto
Desejo, apetite e humores em Maquiavél
Luiz Carlos Montans Braga
A corrupção da república e o surgimento das facções em Maquiavel
Igor Ferreira Fontes, Flávia Benevenuto
Clízia e Mandrágora: literatura e política
Nilo Henrique Neves dos Reisvisualizar
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