Revista Sísifo. N° 13, Janeiro/Junho 2021. ISSN 2359-3121. www.revistasisifo.com
Ana Letícia Adami
Doutora em Filosofia e Mestre em História Social, ambos pela Universidade de São Paulo, com estágios de pesquisa no Istituto in Civiltà dell’Umanesimo e Rinascimento di Firenze e na Universidade de Columbia (EUA).
RESUMO: Quem nunca, como pesquisador, passou pela experiência de tomar os próprios trabalhos e publicações mais antigos com um estranhamento tal, como se escritos por um outro? E não me refiro a um tipo de distanciamento momentâneo, induzido propositadamente como estratégia de escrita e desenvolvimento de um texto. Falo daqueles trabalhos que se encontram a décadas de distância de nós mesmos. Às vezes, o reencontro promove surpresas boas, às vezes, nem tanto. Partindo de um encontro desse tipo, de uma visita às minhas análises e notas de leitura antigas do texto De Libero Arbitrio de Lorenzo Valla, em meio a uma espécie de reviravolta sobre mim mesma, busco mostrar como essas diferentes leituras podem contribuir para entendermos hoje as divergências epistemo-metodológicas entre Valla e os escolásticos, tomando a Consolação da Filosofia de Boécio, por escolha de Valla, como o modelo de um modus analítico, alvo de ataques da parte do humanista italiano.
Palavras-chave: Lorenzo Valla; Boécio; Livre-Arbítrio; Retórica; Filosofia
ABSTRACT: Who has never, as a researcher, gone through the experience of taking their own older works and publications with such estrangement, as if written by someone else? And I'm not referring to a kind of momentary distancing, purposely induced as a strategy for writing and developing a text. I'm talking about those works that are decades away from us. Sometimes the reencounter brings good surprises, sometimes not so much. Starting from an encounter of this type, from a visit to my analyzes and old reading notes of the text De Libero Arbitrio by Lorenzo Valla, in the midst of a kind of turnaround on myself, I seek to show how these different readings can contribute to our understanding today of the epistemic-methodological divergences between Valla and the scholastics, taking Boethius' Consolation of Philosophy, by Valla's choice, as the model of an analytic modus, the target of attacks on the part of the Italian humanist.
Keywords: Lorenzo Valla; Boethius, Free wil; Rhetoric; Philosophy
Quando me propus a revisitar o diálogo sobre o Livre Arbítrio de Lorenzo Valla, de 1439, fazia já alguns anos que não me debruçava sobre o texto. Na época, eu, uma incipiente leitora do francês, tive que traduzir com grande esforço para o portuguêsi a versão de Jacques Chomarat, que com grande alegria havia encontrado na biblioteca de minha universidade. Agora, “décadas” depois (não sei precisar), tendo me doutorado na leitura cavilosa de outro diálogo do autor, de escritura anterior, achei que poderia ser mais interessante começar pela retomada daquelas notas e análises dos tempos imberbes de pesquisa. Desse modo, decidi-me por apresentar aqui uma espécie de visitação ao que foi a minha primeira aventura de análise da obra de Valla, realizada por ocasião de um projeto de Iniciação à Pesquisa. Mas gostaria de fazê-lo de um modo tal que ficasse visível ao leitor as diferenças que agora no íntimo experimento ao confrontar-me com a leitura da obra como proposto pela Letícia de antes.
E começo por confessar que me surpreendi com o que dizia a Letícia de antes, quem, nem havia ainda lido Hanna Arendt, tentava provar, através de uma minuciosa leitura comparada entre o livro V da Consolação da Filosofia de Boécio e o opúsculo De Libero Arbitrio, que Valla “introduzia um conceito original de vontade” como “liberdade de escolha entre duas possibilidades”; e assim afirmava com a convicção de que o autor o fazia munido de uma “definição precisa”, que lhe serviria de “base de apoio para sua tese em defesa do livre-arbítrio” (trechos extraídos do relatório final de pesquisa aprovado, jamais publicado). Embora essa questão acerca do significado de vontade me interesse hoje ainda mais do que no passado, o ponto que pretendo destacar aqui incide sobre a parte final, mais precisamente, a parte em que ela afirma haver no autor um rigor intelectual que se expressa por meio de uma linguagem e forma precisas, rigidamente alicerçadas em bases epistemológicas conceituais pré-determinadas.
Bem, agora, eu diria, nem é ele nenhum pouco “preciso”, no sentido do escritor bem versado no uso de conceitos estreitos e delimitados; nem nos oferece quaisquer “definições”, facilmente identificadas na leitura do texto na forma de proposições breves, por vezes longas, que constituem o ápice do conforto do leitor-pesquisador ao se deparar com os objetos sobre os quais repousar seu olhar inquieto e investigativo. Nem me sentiria confortável em dizer que há no texto uma “tese”, no sentido forte da acepção tal qual empregamos, no dia a dia, nos lugares da produção científica das disciplinas acadêmicas.
Ao invés disso, o que hoje me parece claro, depois de quase quinze anos desde o primeiro contato com a leitura da obra do autor, é que o próprio Valla abominaria o uso desse vocabulário técnico filosófico-especulativo, próprio do terreno da lógica-formal escolástica, da qual ele mesmo foi um opositor ferrenho; e muito menos ainda lhe agradaria, parece-me, que se fizesse uso deles justamente para falar de si! Mas o seu estilo é sinuoso, seus textos nos abrem várias indagações, que nos lançam de um lado a outro, por incontáveis caminhos, enquanto tece armadilhas imperceptíveis que nos capturam e consternam. Não à toa, desde o começo, elegerá a escrita de diálogos, nos moldes dos exemplos dos antigos e de alguns colegas que o precederam, como gênero que melhor lhe permitia transpor para o escrito o seu ousado e aquilino perfil intelectualii.
O Diálogo sobre o Livre Arbítrio (De Libero Arbitrio), publicado em 1439, foi escrito durante a longa estadia do humanista na corte de Afonso de Aragão (de 1435 a 1448). Foi também o primeiro diálogo do autor sobre o qual me debrucei a ler com ímpeto de jovem pesquisador (por volta de 2005, se as datas entre o início da Iniciação Científica e o término dela me permitem precisar alguma coisa). Já ali, nas primeiras linhas do texto, no que intitulamos proêmio – aproveito-me agora da tradução de Paula Oliveira e Silva (2010), inexistente na época –, podemos ler o autor esbravejar contra a Filosofia:
Quereria acima de tudo, ó Garcia, o mais sábio e excelente dos bispos, muito me agradaria e desejaria ardentemente que todos os cristãos e, em particular, os que se chamam teólogos, não conferissem tanta importância à filosofia e não despendessem nela tantos esforços, pondo-a a par e considerando-a quase como irmã, para não dizer senhora, da teologia. (VALLA, 2010, p. 33).
Endereçando-se a Garcia, bispo de Lérida, companheiro do autor na corte aragonesaiii, Valla expõe o seu ardor em proclamar a nulidade dos serviços da Filosofia à religião cristã, conclamando “todos os cristãos” e, em particular, “os teólogos” para que não lhe despendam “tantos esforços”, que não a tenham por coisa tão importante que possa ser elevada ao posto de “senhora” da Teologia. O ardor nas palavras do humanista não escapou à tradutora, que bem fez em convocar, no seu prefácio à tradução do De Libero Arbitrio (2010), a lembrança do modus theologandi de Salvatore Camporeale, como proposta interpretativa do sentido da rhetorica de Valla contra a filosofia. Diz ela:
Por seu turno, opondo-se veementemente à instrumentalização da filosofia por parte da teologia, que caracterizou a escolástica aristotélico-tomista, Valla apresenta a rhetorica, como alternativa ao problema da mediação epistemológica entre aqueles dois saberes fundamentais. Desta forma, propunha-se a instaurar o estatuto humanista da teologia (SILVA apud VALLA, 2010. p. 18).
A filosofia, compreendida pelo humanista como o principal instrumento adotado pela tradição, desde Boécio, para lidar com aqueles mistérios divinos, preservados pelo estudo e ensino da Santa Religião, eleva-se à instância de ciência quase “irmã”, ou mesmo – como diz Valla, com amargura – “senhora” da Teologia. A philosophia torna-se assim o modus theologandi dos escolásticos, contra o qual o humanista irá erguer, em oposição, a sua ars rhetorica. Para Camporeale, através de Valla,
(...) for the first time ever – as Poggio clearly understood and wrote in his Invectivae in L. Vallam (Invectives against Lorenzo Valla) in the early 1450s – the overcoming of the antinomy between rhetoric and theology becomes the epistemological foundation for a new, specifically humanist perspective on biblical and ecclesiological study. (CAMPOREALE, 2013, p. 277).
Com Valla, alega o estudioso, se instaura o princípio de uma teologia retórica humanista, por alternativa à teologia filosófica escolástica (CAMPOREALE, 2013, p. 277). A retórica e a filosofia se apresentam como duas modalidades ou modus, concorrentes entre si, de perscrutar os mistérios da scientia sacra. Essa conclusão, que é bastante conhecida como um dos aspectos fundamentais do programa-metodológico de Valla, foi nada notado pela juveníssima leitora, a Letícia de antes, a qual encarou a tarefa de exegese do diálogo Sobre o Livre Arbítrio como quem refaz um raciocínio matemático, em busca de erros ou inconsistências, isto é, munida de régua e esquadro, sem saber que se dirigia à medição de objeto de substância inconstante e forma irregular.
Sem se dar conta de que se tratava de um “novo paradigma de racionalidade” (VALLA, 2010, p. 17) – expressão da tradutora portuguesa, que só iria conhecer depois –, Letícia buscou retraçar, por meio de uma análise comparada entre os textos de Boécio e de Valla, os conceitos e argumentos levantados por um e outro, no intuito de esclarecer as diferenças entre eles na defesa da concepção de providência divina frente à manutenção da liberdade humana.
A razão dessa escolha fora estimulada pelo próprio autor, no proêmio, onde anuncia explicitamente ser sua intenção contra-atacar Boécio no livro V da Consolação da Filosofia:
De momento queremos de facto mostrar que Boécio, unicamente por ter amado em excesso a filosofia, não discorreu como deveria acerca do livre arbítrio no Livro V da Consolação. Na verdade, aos quatro primeiros livros respondemos na nossa obra sobre O Verdadeiro Bemiv. E esforçar-me-ei por discutir e resolver todo esse assunto com a máxima diligência que puder, a fim de que, depois de todos os que escreveram acerca dele, eu não pareça ter raciocinado em vão. (VALLA, 2010, p. 35).
Foi a primeira vez também que ouvi falar da obra O Verdadeiro Bem, de Lorenzo Valla – sem obviamente saber que, mais tarde, ela me abriria as portas para outra aventura acadêmica ainda maior, mais rica e complexa. No afã de tentar unir as pontas que originaram a escrita dos dois diálogos, sobre o libero arbitrio e o vero bono, como o próprio autor nos relata, lancei-me à tarefa de traduzir o Vero Bono para o portuguêsv (um trabalho, naquela altura, de uma complexidade que não podia mensurar. Por sorte, a imprudência de juventude, aliada às boas parcerias, me lançaram ao desafio... E assim ela veio ao mundo!). De Vero Bono é um dos títulos empregados pelo autor para se referir a uma das suas obras mais polêmicas, o De Voluptate (Do Prazer), de 1431. Talvez, com o fim de conter as murmurações que ligavam a infâmia de seu título, Do prazer, ao seu nome, o autor tenha optado, no trecho apresentado anteriormente, por empregar a versão menos controversa do título, De Vero Bono, em vez de suscitar em seus leitores a lembrança do “temível amante do prazer” – certamente, uma das primeiras lições que um homem sensível à arte retórica como Valla deve levar em conta é a disposição passional de seus ouvintes.
Em Do Prazer, como vimos no Livre Arbítrio, já no proêmio, o autor expõe às claras sua intenção de se contrapor aos “filósofos”, “seus inimigos”. Ao retomar as figuras dos personagens bíblicos Davi e Jônatas, ele diz:
E assim como esses dois que acabo de mencionar – um que roubou a espada de seu inimigo e a usou para matá-lo, e outro que incitou seus adversários a empunharem a espada uns contra os outros –, nós esperamos e acreditamos que destruiremos nossos inimigos; isto é, os filósofos (ADAMI, 2010, p. 60).
Como podemos ler acima, desde muito cedo, já nos trabalhos de juventude – Do prazer consta como a segunda publicação do autor –, o humanista manifestava duas de suas maiores paixões: a aversão à filosofia e o amor à retórica. Como vemos, ele não poupa palavras em externar sua rivalidade contra os “filósofos”. E para afrontar tais inimigos, convoca em auxílio a figura de dois jovens soldados cristãos, Davi e Jônatas, os quais, não tanto pela espada, mas por meio de habilidades especiais triunfam sobre aqueles. O primeiro, portando nenhuma outra arma além da arte de ludibriar, rouba do adversário sua espada e, empunhando-a contra ele mesmo, derruba-o com um golpe certeiro. O segundo, sem se utilizar de nenhum ferro, mas apenas através de palavras, persuade seus inimigos a se voltarem uns contra os outros, desfazendo suas frágeis alianças. Esses inimigos, recordemo-nos, são os filósofos, homens “obscuros, esquálidos e anêmicos” – diz Valla, mais adiante (ADAMI, 2010, p.81) –, presas fáceis do artifício e vigor dos oradores. Invocando as palavras da autoridade de Quintiliano (Inst. Ort., I, 12, 18), Valla confere à “Oratória, Rainha de todas as coisas” (ADAMI, 2010, p. 81), o governo sobre a Teologia e todas as demais Artes Liberais (disciplinae liberales) (CAMPOREALE, 2013, p. 263).
Portanto, voltando à metáfora valliana, ao recorrer às habilidades daqueles dois jovens soldados cristãos para ilustrar as virtudes que sua própria arte, a Retórica, é capaz de realizar, Valla está nos dizendo que irá atacar a sua inimiga, a Filosofia, de igual modo; isto é, tomando dela todas as suas armas e empenhando-as contra ela mesma. Assim ele procede ao recuperar aquelas questões sedimentadas pela tradição do pensamento escolástico – como esta acerca da incompatibilidade entre o livre-arbítrio e a providência divina, que lemos no De Libero Arbitrio, ou aquela sobre o verdadeiro bem, em De vero bono –; e, dando a elas um tratamento retórico, golpeia o próprio estatuto do método especulativo-filosófico que as engendrou e perpetuou. É exatamente isso o que ele pretende fazer com Boécio e sua vã filosofia no diálogo Sobre o Livre Arbítrio.
Como vimos, Valla anuncia no proêmio à obra que pretende mostrar que “Boécio, unicamente por ter amado em excesso a filosofia, não discorreu como deveria acerca do livre arbítrio no Livro V da Consolação” (VALLA, 2010, p. 35). Não é sem razão que Valla elege Boécio e o seu De Consolatione Philosophiae como alvo direto do seu ataque. Mais do que se dirigir a uma autoridade qualquer da escolástica, ele escolhe uma sobre a qual se assentam os pilares de séculos de uma tradição que viu prosperar, sob a égide da filosofia, os seus recursos de compreensão dos segredos da fé cristã. A icônica imagem da Dama Filosofia, personagem da Consolatione, que visita o ex-senador romano durante seu flagelo no cárcere, fez de seu próprio autor também um ícone, um dos fundadores da Escolástica cristã. Como afirma a tradutora, em seu prefácio:
Em última instância, Valla assume o De Consolatione Philosophiae como emblemático de toda a escolástica, quer pelo conteúdo, quer pela metodologia, quer pelo lugar central que esta obra ocupou ao longo dos séculos de produção filosófica e teológica que o antecederam (...). Com efeito, Boécio e o De Consolatione constituem um marco indelével no inicio de uma nova era e permitem delinear, em conjunto com os demais escritos daquele que foi designado como o ultimo dos Romanos, a forma mentis que será uma constante no ocidente latino até ao século XII. (VALLA, 2010, p. 16).
Sem querer me alongar mais no tema da potência da figura boeciana para a tradição escolástica, e para voltar à questão que narrei de início, e que me causou surpresa, gostaria de mostrar que o uso de um vocabulário técnico, muito próximo da forma daquele método de origem medieval, do comentário e da discussão dialética, fundamentado numa tese e na sua antítese, na defesa e refutação de argumentos que tratam sobre verdades absolutas, estabelecidas com base em conceitos bem definidos e proposições muito precisas – pois, assim devem ser os objetos da razão; isto é, do nous theoretikós ou razão contemplativa –, está muito longe de ser o mais adequado para ajudar o pesquisador na leitura e compreensão da obra valliana. Como vimos, todo esse arsenal metodológico de forte alinhamento escolástico é justamente o que Valla pretendeu superar. Esse era o seu plano de ação, o qual ele procurou levar a cabo por meio do seu método histórico-filológico, pelo profundo conhecimento das línguas (do grego e do latim), pela gramática e pela retórica – e com esse propósito, o gênero diálogo, muitas vezes adotado pelo autor, adquiriu uma importância radical (ADAMI, 2019).
Mas talvez a curiosidade do leitor esteja agora voltada em saber afinal o que viu e descobriu a Letícia de antes em sua análise comparada entre os conceitos de fortuna, providência, vontade e liberdade nos textos da Consolação da Filosofia e o Livre Arbítrio. Retomando o seu procedimento, e recuperando a exposição que ela fazia das teses de Boécio e da refutação de Valla, comecemos, pois, pela explicitação das proposições boecianas acerca daquele problema da fortuna, que, no caso do filósofo, tal expediente, parece, funciona melhor.
A questão preliminar – a qual coincide em ambos os textos – é a de saber se é possível considerar que o gênero humano tenha de fato o livre-arbítrio diante da noção existente de presciência divina, pois, se se considerar que Deus tenha a capacidade de prever os eventos antes que eles ocorram, então não haverá a possibilidade de que eles ocorram de outra forma, diferente da que Ele previu. Em decorrência, é negada a liberdade de escolha prevista nas ações humanas. A liberdade, desse modo, não passaria de mera ilusão. Como afirma Boécio:
Na minha opinião, o fato de Deus conhecer todas as coisas previamente e ao mesmo tempo existir o livre arbítrio são duas afirmações completamente contraditórias e incompatíveis (BOÉCIO, 1998, p. 135).
Como dito anteriormente, a mesma questão é apresentada por Valla, no diálogo com Antonio Glareavi:
Se Deus prevê o futuro, não pode suceder de modo diferente daquilo que ele previu. Por exemplo, se ele viu que Judas haveria de ser traidor, é impossível que este não tivesse sido traidor. Isto é, é necessário que Judas tivesse sido traidor, a não ser que queiramos – oxalá não! – que Deus careça de providência (VALLA, 2010, p. 40).
O ponto que realmente preocupa a ambos os pensadores é o quanto essas ideias contraditórias perturbam a noção de justiça. Diante da concepção de uma força incomensurável, chamada necessidade, a governar as ações humanas, o julgamento delas conforme a moral carece de fundamento. Nas palavras de Antonio:
A questão acerca do livre arbítrio, da qual depende tudo o que se refere às ações humanas, toda a justiça e injustiça, todo o prémio e castigo, e não só nesta vida como também na futura, parece-me extremamente difícil e particularmente árdua, e não direi facilmente se existe alguma outra cujo conhecimento seja mais necessário ou acerca da qual menos se saiba. (VALLA, 2010, p.36).
O mesmo é pensado por Boécio:
Se admitirmos tal raciocínio, veremos claramente a nulidade dos valores humanos que daí resulta. Com efeito, seria vão proporcionar aos bons e aos malfeitores recompensas ou punições, pois seus feitos não se devem a nenhum movimento livre e voluntário da alma. E ainda, pareceria ser o cúmulo da justiça o que se considera uma justiça perfeita – falo da punição dos malfeitores e da recompensa dos bons –, já que eles não são levados a praticar o bem ou o mal por sua própria vontade, mas pelo fato de serem obrigados a uma necessidade certa de que assim será (BOÉCIO, 1998, p.138-139).
Em resposta a esse dilema, ambos os autores, sabemos, se posicionam de maneira favorável à existência do livre-arbítrio sem, contudo, que ele contradiga a presciência divina – o que seria certamente uma ofensa a Deus. O que, portanto, Letícia buscou verificar em sua pesquisa foi os caminhos pelos quais cada um dos autores teceu seus argumentos em sustentação da mesma tese, a fim de encontrar alguma diferença entre eles. Num passo seguinte, averiguou que eles concordam que a noção de necessidade como derivada da presciência deve ser descartada, uma vez que admitem, ao invés disso, a existência de acontecimentos cuja natureza não é “minimamente necessária”, como diz Boécio:
Ora, os atos que não são necessários no momento em que se realizam também não o eram anteriormente, mesmo se eles devessem acontecer mais tarde. Eis por que há acontecimentos que se irão produzir e cuja realização não é minimamente necessária. (...) da mesma forma a presciência do que vai acontecer não impõe nenhuma necessidade aos acontecimentos futuros (BOÉCIO, 1998, p.143).
Reproduzi o trecho em questão, pois que é dele que Letícia extrai a tese para composição do silogismo, como veremos abaixo. Noto, ainda, que foi a partir da questão mesma acerca da tipologia dos acontecimentos que ela distinguiu entre os autores uma diferença. Do que são feitos, da onde surgem e como se identifica tais espécies de acontecimentos é matéria de alguma controvérsia. Mas deixemos essa discussão para outro momento, por mais curiosa que seja, pois que nosso objetivo aqui é marcar a distinção entre os métodos.
Continuemos, assim, nas trilhas bem marcadas deixadas por Boécio no emprego do seu silogismo, como também perseguiu a pesquisadora. Em sua conversa com a Dama Filosofia, Boécio a ouve dizer:
Mas tu dizes que o principal ponto de controvérsia é precisamente saber se é possível conhecer de antemão os acontecimentos cuja realização não é necessária. Isso parece a ti implicar uma contradição, pois, segundo pensas, se os acontecimentos são previstos, eles têm de ser necessários: se negamos a sua necessidade, negamos também a presciência, já que a certeza não pode se aplicar senão a uma verdade certa. (BOÉCIO, 1998, p.143)
Bem ao gosto dos escolarcas medievais ao tomar lições de um iniciante nos estudos da ciência dialética, a pesquisadora extrai do trecho do diálogo duas proposições para formar o raciocínio silogístico sobre o qual o filósofo medita em seu cárcere; a saber:
-
se os acontecimentos são previstos, eles têm de ser necessários (premissa básica)
-
a certeza não pode se aplicar senão a uma verdade certa (premissa);
-
a presciência do que vai acontecer não impõe nenhuma necessidade aos acontecimentos futuros (conclusão)
O silogismo é falso, pois a conclusão não pode derivar das premissas anteriores – como alegava a Dama Filosofia, há aí uma contradição implícita. Logo, para Boécio provar a tese que deseja defender, contida na terceira proposição, ele deve encontrar uma maneira de evitar a real conclusão que deriva das proposições anteriores, isto é, a de que um acontecimento previsto, para ser certo, deve ser também necessário. Feito isso, ele resolveria a contradição entre as duas premissas e a sua própria tese.
Então, a fim de corrigir aquele silogismo, ele afirma:
A causa deste erro é que todos pensam que conhecem algo a partir das propriedades e da natureza do que é conhecido, enquanto o que ocorre é o contrário. De fato, tudo o que é conhecido não é compreendido segundo suas características, mas sim segundo a capacidade daqueles que procuram conhecer. (BOÉCIO, 1998, p. 144).
Avançando a leitura em algumas passagens, o que Boécio pretende é levar-nos à conclusão de que a “inteligência divina” (BOÉCIO, 1998, p. 151), que ultrapassa a razão, é uma faculdade que permite a Deus apreender saberes que a razão humana desconhece – como é dito acima, o que é conhecido depende da “capacidade daqueles que procuram conhecer”. É a razão humana que depende da necessidade para conhecer com certeza um evento futuro. Tal é a base do próprio método dedutivo, do qual se aproveita o filósofo em suas vagueações espirituais acerca dos mistérios divinos. Deus, por sua própria natureza, diferente de nós, conhece com “precisão e certeza” esses acontecimentos mesmo que eles “não se realizem” (BOÉCIO, 1998, p. 149), ou seja, mesmo que não sejam necessários.
Assim, voltando àquele silogismo, proposto anteriormente, Boécio acredita, com essa reflexão, ter encontrado as premissas intermediárias que validam a sua derradeira proposição: a conclusão de que “a presciência do que vai acontecer não impõe nenhuma necessidade aos acontecimentos futuros”. Se foi ele realmente capaz de resolver a questão, isso é matéria que os escolarcas dialéticos disputaram incontáveis vezes ao longo dos séculos, quer por amor ao exercício, quer para afirmar a grandeza da doutrina boeciana. O que espero ter deixado claro com esta descrição é que, ainda que por meio de um diálogo, como nos traz a Consolação, é no terreno da lógica e do método dedutivo que Boécio situa (ou espera situar) a sua reflexão.
Cerca de dez séculos depois, eis que chega Valla (não nego que tenha havido outros antes dele, como discutiremos adiante): que monte de “absurdos” dizem esses “filósofos”, que tanto mal fizeram à “santíssima religião”! – quase podemos escutá-lo dizer, através de seus diálogos, cartas e proêmios (VALLA, 2010, p. 34 e p. 47). Em conversa com Antonio Glarea, no diálogo sobre o Livre Arbitrio, Lorenzo lhe diz sem pudores: “Vens contra mim com os preceitos (formulae) dos filósofos? Como se eu não ousasse contradizê-los! Realmente, esse preceito que referes, seja lá de quem for, considero-o absolutamente absurdo” (VALLA, 2010, p. 47). Valla aparenta não temer a autoridade dos filósofos ao contestar os seus preceitos. Em verdade, isso nos diz muito mais sobre o contexto em que o autor se insere, do que de seus temores e receios. De fato, as autoridades da escolástica, reputadas por uma tradição secular, dominavam o cenário intelectual no interior das universidades. Estas, desde a origem, no século XII, restavam sob a sanção do poder clerical, que exercia um poder hegemônico sobre suas disciplinas, métodos e regulamentos (ADAMI, 2019, p. 31-32). Portanto, não é contra um inimigo fácil, destituído de posição de influência e poder, contra quem Valla vocifera. É bem provável que o largo uso do astuto gênero diálogo no Renascimento tenha sido devido às possibilidades que ele oferecia aos humanistas de se precaverem contra retaliações mais severas – com toda a sua especificidade, a cultura do “cancelamento” não é de fato uma invenção do século XXI! Não haverá espaço aqui para narrar as agruras sofridas por Valla como consequência de seus escritos, nem as suas peripécias para escapar delas...
Em continuação à discussão entre Lorenzo e Antonio no diálogo, seja por fidelidade aos fatos, seja por astúcia, o humanista divide com o seu interlocutor o fardo da “autoria” da acusação contra a autoridade de Boécio. Desta vez, é Antonio quem expõe o seu descontentamento com as soluções boecianas a esse problema:
Na verdade, que direi dos outros, quando o próprio Boécio, a quem todos dão a palma na explicação desta questão, não sendo capaz de levar a cabo sua tarefa, se refugia em certas realidades imaginárias e fictícias? Com efeito, diz que Deus pela sua inteligência, que está acima da razão, e pela sua eternidade, sabe tudo e tudo tem na sua presença. Eu, porém, que sou racional e nada conheço fora do tempo, a que conhecimento da eternidade e da inteligência poderei aspirar? (VALLA, 2010, p. 38-39).
Por outras palavras, Antonio (e através dele, Valla) está querendo que notemos que o apelo de Boécio à ideia de uma inteligência própria da divindade, que ultrapassa a razão humana, que não depende da necessidade e que conhece, por sua eternidade, “os acontecimentos futuros de um só golpe de vista” (BOÉCIO, 1998, p. 155) é uma invenção “imaginária e fictícia”, uma realidade criada na imaginação do próprio Boécio. E, portanto, nada ela tem em comum com um argumento lógico-dedutivo. A única conclusão que ele conseguiu demonstrar com tal argumento, crê Valla, é a falsidade de sua própria empresa teorético-filosófica. E não sendo capaz de “levar a cabo sua tarefa”, invade terreno alheio, estranho ao seu próprio método, tomando de outros os seus artifícios; quais sejam, as figuras nascidas das fontes da persuasão, a inventio da retórica. Pois, como é possível que alguém, que só possui a razão e não conhece nada senão no tempo, como somos todos feitos, poderia aspirar a um conhecimento que pertence a uma natureza Eterna e Divina? E isso que não é possível conhecer pela realidade objetiva das coisas, torna-se real na realidade fantasiosa da mente de Boécio. Da Eternidade de Deus e sua Inteligência, só podemos imaginar o que seria, nada podemos deduzir ou concluir. Mas haverá ocasião para acompanhar a solução do assunto por Valla e Antonio.
Para o que pretendemos aqui, o importante é notar que é no reino da Retórica que Boécio busca “refúgio” – como diz Antonio – para sustentar sua tese sobre a presciência de Deus. E o quê é ainda mais vergonhoso, não usa bem os instrumentos que ali encontra; quer dizer, não faz bem nem uma coisa nem outra, nem raciocina corretamente, através dos conceitos e proposições lógico-dedutivas, a tese que deseja demonstrar, nem traz a imaginação ativa e aberta à livre criação de figuras para produção de um discurso agradável e convincente.
Como perito na arte retórica, Valla é ciente de que há outra razão do porquê o filósofo, falecido em 524, teve a sua Consolação da Filosofia, escrita no cárcere, enquanto aguardava seu julgamento pelo rei Teodorico, transformada em um dos principais livros consagrados aos estudos dos mistérios da Santa Religião e da Teologia – reverenciada até mesmo depois do aparecimento da creditada doutrina tomista, de forte viés lógico-aristotélico. Afinal, acaso não poderia ter havido, diante de tão experiente massa de dialéticos, que um ou mais expertos não tivessem questionado as lacunas formais encontradas na obra dele? Seria então que um artistavii, versado nos “floreios da Arte Retórica” – como diriam de Valla os alunos de Filosofia –, livre de todo aquele rigoroso preparo de apuração do juízo, resultado do treinamento de aferição das sentenças, é quem viria a público aparar todas aquelas falhas?
Em verdade, sabe-se que Valla não foi o primeiro a questionar o argumento da Eternidade como proposto por Boécio. Entre os séculos XIII e XIV, podemos citar, por exemplo, os filósofos Duns Scot e Guillerme de Ockham. Eles discordaram da solução boeciana, “entendendo que o tempo existe apenas como presente atual”, e que é, portanto, contraditório conceber uma Eternidade que contenha presentes, simultaneamente, tudo o que existe e “todos os tempos” (ESTEVÃO, 2000, p. 373). Mas, certamente, com Valla, foi a primeira vez (CAMPOREALE, 2014, p. 205-210) que o renomado filósofo fora acusado de incorrer em invenções fantásticas (res imaginarias et commentitias, diz Valla) – a fama de resoluta ousadia acompanhou a carreira do humanista!
Há de se notar que as críticas daqueles se expressam ainda nos termos da formal tradição dialética. A diferença fundamental entre a crítica de Valla e a de seus predecessores, eles mesmos professores naquela ciência, é que ele se volta contra as bases metodológicas da Teologia, jamais questionadas até então (CAMPOREALE, 2014, p. 205-210). Sua crítica, portanto, é também de caráter epistemológico, com o fim de refundar a Teologia, como defendia Camporeale (2014, p. 203) – tal é ainda mais evidente quando nos detemos sobre suas demais obras, como o Encomium S. Thomae Aquinatis (1457). Contudo, apesar de seu notável interesse pela Teologia, é à Retórica que ele concede o posto máximo de governante de todas as coisas. É mais para demonstrar a Senhoria de sua arte sobre a filosofia, que Valla ousa penetrar o território ocupado pelos inimigos, os filósofos. E, ainda mais importante, não é na condição de intruso que ele aí adentra. Mas com a dignidade de quem reivindica a compensação de uma afronta sofrida: a de ter visto seus artifícios usurpados por aqueles que se dizem autoridade no assunto, os doutores naquela ciência, e que renegam a segundo plano os “floreios” dos artistas.
Seria ingênuo imaginar que a evocação dessa paixão, suscitada pela imagem de um Valla ressentido ou indignado, não seja mais do que uma dentre as várias estratégias retóricas que dão movimento e vida à argumentação proposta no diálogo. Como se diz, é de caso muito bem pensado que ele a emprega! Vale recordar aquelas imagens por ele evocadas, mais de uma vez, em suas obras dos soldados cristãos que lutam quase de “mãos vazias” contra um exército mais forte e numeroso, o dos filósofos, oras! Valla era ciente de que o domínio deles era hegemônico, e reconhecia as desvantagens de sua própria posição (era ele o intruso naqueles elevados assuntos!). Como Davi contra Golias (ADAMI, 2010, p. 60), Valla enfrenta gigantes com as armas da retórica, uma arte que lhe permite esquivar-se dos golpes e contragolpes dos dialéticos. De partida, sua defesa aqui se apoia, ao menos, em duas estratégias básicas: uma delas, é a adoção do próprio gênero diálogo, como observamos antes; a outra, é a incitação da paixão, a ira provocada pela ofensa de ter sua propriedade invadida – fato que lhe permite inverter a lógica sobre quem é o invasor/invadido e o autoriza a falar, já agora no próprio terreno, daquele sacro assunto. A Teologia, campo infestado de filósofos, deve ceder lugar à voz de ninguém mais do que a de um artista, que ousa questionar a resolução de Boécio sobre a providência de Deus e a liberdade humana.
Isso dito, resta considerar a que se deve o peso creditado pela tradição à argumentação de Boécio sobre o tema do livre-arbítrio, tendo sido considerada “um marco na história do problema” (ESTEVÃO, 2000, p. 373); por que o filósofo teria sido tão aclamado pelos escolásticos medievais, século atrás de século? Do ponto de vista da retórica, que nos interessa aqui, o que realmente engendrou e sustentou a vivacidade da figura de autoridade do filósofo, condenado por traição, é fruto de força cujo conhecimento os seus seguidores, iniciados na arte dialética, ignoram. Seu significado advém da grande piedade que ele, devoto do nascente cristianismo, inspira por seu trágico destino de homem injustiçado, torturado e condenado à morte por causa de uma falsa acusação – inocência que, ao menos, a sua imagem de mártir presume. Sua alma fiel e direcionada àqueles mistérios elevados que só a razão é capaz de alcançar, nem sob severas restrições, nem perante a morte, se permite desviar. É na solidão do cárcere que ele procura consolo na escrita de um diálogo imaginário com a Dama Filosofia, acerca das questões mais nobres que somente a um cristão é lícito perscrutar. Ora, que é tudo isso senão os contornos de uma figura retórica ou de pensamento através da qual o ethos do escritor Boécio, o “amante da Filosofia”, injustamente preso e executado, captura a persuasão e dá força a um discurso que atravessa os séculos?
Em conclusão, para o humanista, as “coisas humanas”, como a política – já sabemos –, mas também a religião, são objetos da Retórica, não da Lógica. Por isso lemos no seu diálogo sobre o Livre Arbítrio ele dizer que contribuirá com algo seu, próprio, pessoal, “diferente dos demais” (VALLA, 2010, p. 35). Logo, é no terreno da opinião que ele situa o seu discurso. Dessa perspectiva, ele dirige a sua atenção para a fonte das ações humanas, e não se mostra lá muito preocupado com divagações metafísicas, acerca de tempos incompreensíveis à razão. A essência da vera religio, nesse caso, não está ao alcance da razão humana. A resposta valliana à questão da providência e o livre-arbítrio perpassa o querer de Deus, cujos desígnios são, ele conclui, insondáveis.
Acredito não poder encerrar sem deixar um breve comentário sobre o resultado de análise de Letícia, como pensado por ela anos atrás. Atendo-me aos termos de referência de pesquisa em jogo, quero dizer, aqueles que delimitam o campo lexical no qual ela se situa, não coincidente com aquela modalidade retórica proposta por Valla, posso confirmar que ela apresenta uma discussão bem fundamentada e de acordo com os rigorosos parâmetros científico-metodológicos da pesquisa acadêmica ultramoderna. Contudo, levando em consideração a discussão desenvolvida aqui, alerto para que se observe que, ao optar por esse método, a pesquisadora põe de parte diversos aspectos e nuances do texto original, importantíssimos para uma compreensão mais abrangente da obra valliana. As figuras e tropos retóricos que enriquecem o texto de Valla, e de onde ele extrai a força persuasiva de seu discurso, necessária para confrontar o stablishment da época, conferido pelo peso da autoridade dos filósofos, desaparecem completamente. Ainda assim, gostaria de ressaltar o empenho e as qualidades investigativas de Letícia, sobretudo por se tratar de pesquisadora muito jovem e inexperiente, e de autor capcioso, um artista de reconhecida habilidade retórica, num tempo em que esta arte era compreendida como saber muito mais amplo do que mero acessório estético de um discurso.
Referências Bibliográficas
ADAMI, A. L. O De Voluptate de Lorenzo Valla: tradução e notas. Dissertação de Mestrado. Faculdade de História. Universidade de São Paulo, 2010.
ADAMI, A. L. A Ética do Prazer de Lorenzo Valla. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia. Universidade de São Paulo, 2019.
BOÉCIO. A Consolação da Filosofia. Trad. Willian Li. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
CAMPOREALE, Salvatore. Christianity, Latinity, and Culture: Two Studies on Lorenzo Valla. Ed. by P. Baker and C. Celenza. Boston: Brill, 2014.
ESTEVÃO, J. C. (2000). Liberdade e Presciência em Ockham. Revista Veritas Porto Alegre, n. 45, vol. 3, p. 369-380.
LE GOFF, J.; SCHIMITT, J. C. (Orgs.). Dicionário Temático do Ocidente Medieval (2 Vols). São Paulo: EDUSC, Imprensa Oficial, 2002
LORCH, M. de P. Introdução. In: VALLA, L. De Voluptate (On Pleasure). trad. A. K. Hieatt e M. Lorch, Norwalk: Abaris Book, 1977.
QUINTILIANO. Instituição Oratória. Trad., texto e notas de B. F. Bassetto. São Paulo: Ed. da UNICAMP, 2016.
VALLA, Lorenzo. Diálogo sobre o livre arbítrio. Trad., intr. e notas de P. Oliveira e Silva. Lisboa: Edições Colibri, 2010.
VALLA, Lorenzo. Dialogue sur le Libre-Arbitre (De libero Arbitrio). Ed. e Trad. Jacques Chomarat. Paris: Librairie Philosophique, Textes et documents de la Renaissance, 1983.
i A tradução faz parte do relatório final de Iniciação Científica (2006), aprovado por agência de fomento, jamais publicada até o momento.
ii Com efeito, o retrato mais famoso do humanista traz uma gravura de seu perfil com o nariz de bico de águia.
iii Cf. nota da tradutora (VALLA, 2010, p. 33).
iv Referência à sua obra anterior, De Voluptate (1431), cujas variantes carregam os títulos De vero bono e De vero falsoque bono (LORCH, 1977, p. 9).
v Todas as citações da obra De Voluptate ac Vero Bono aqui referidas foram retiradas dessa tradução em português (ADAMI, 2010).
vi Pouco é dito sobre esse personagem nas edições aqui consultadas. Jacques Chomarat nos elucida apenas acerca de sua procedência como sendo seguramente de Huesca, em Aragão, uma das três vilas espanholas que pretendiam ter sido a sede de nascimento do mártir São Lourenço, patrono de Valla. (CHOMARAT, 1983, n. 12, p. 52). A edição de Paula Oliveira e Silva (2010) nada nos traz.
vii Artiens ou artista referia-se ao estudante dos cursos de Artes Liberais, em geral associado mais especificamente ao aluno das disciplinas de Retórica e Gramática. (LE GOFF e SCHIMITT, 2002, p. 574-585).
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