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Mostrando postagens de maio, 2018

Melancolia, catástrofe, ruína: considerações sobre história e vida em Walter Benjamin

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Diogo Bogéa* Resumo: Em sua análise sobre o drama barroco alemão, Walter Benjamin afirma que o personagem central da trama, “o soberano”, representa a História, mas também representa paradigmaticamente o melancólico. Com isso, a melancolia, característica que diz respeito à vida pessoal, é de certa forma atribuída à própria História. A partir dessa indicação, tentaremos investigar as possíveis relações entre vida pessoal e História na obra de Benjamin, o que nos levará a uma crítica à compreensão tradicional de História como progressão linear, bem como à desconstrução da compreensão tradicional de “vida pessoal” como perdurar do sujeito íntegro, fixo, uno, racional e consciente.   Palavras-chave: melancolia; história; subjetividade A tristeza pode matar. No entanto, se a comoção que a causou não é mortal, ela então se dilui nas veias e se funde nas células, modificando pouco a pouco a percepção sensível e psicológica da realidade. Com o tempo, a tristeza se transf...

O legado de Platão sobre o adoecimento da alma e a controvérsia de seu dualismo

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Publicado há mais de uma década, o trabalho de Ivan Frias intitulado Doença do corpo, doença da alma: medicina e filosofia na Grécia clássica (2005) agrega virtudes suficientes para se caracterizar como leitura de interesse permanente a estudantes e estudiosos de Filosofia e Medicina. A obra abrange parte significativa de sua tese de doutorado e se divide em dois capítulos. O primeiro situa Hipócrates no nascimento da arte médica, cujos ramos distintos são pontuados e discernidos. O segundo capítulo apresenta uma minuciosa análise do diálogo Timeu, obra na qual Platão, que tem na medicina um paradigma, evidencia esta influencia e define, “pela primeira vez na cultura do ocidente, doença da alma ”, para retomar as palavras do autor. A análise não apenas nos oferece bases consistentes para repensar a complexidade do nexo corpo-alma, como problematiza a interpretação costumeira do dualismo platônico. Nessa medida, além de nos convidar a repensar a indissociabilidade entre corpo e al...

Comentário às 'Cartas entre um admirador de Pascal e um leitor da Monadologia' e ao conto 'O nascimento', acrescido de notas sobre a melancolia de Pascal

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Bruna Torlay O clássico dito de Montaigne – “a palavra é metade de quem fala, metade de quem ouve” – é por excelência aplicável à filosofia. Não penso aqui do ponto de vista histórico. Falo, antes, da perspectiva de alguém que a cultiva cotidianamente e faz da escuta o adubo diário de suas reflexões dispersas. Claro que a história do pensamento exprime a máxima com nitidez. Mas, talvez, porque seja um registro parcial desse modo de sentir, pelo qual tantos temos sido afetados desde sempre – e do qual excedemos em testemunhos desde a invenção dos registros duráveis. A forma dialógica, que Platão associa à prática mesma da filosofia, foi longamente cultivada por escritores zelosos em registrar seus pensamentos em algum momento da vida. No período que a historiografia ora nomeia “moderno”, ela se fez retomar profusamente, muitas vezes disfarçada no cerne de outro gênero, como se o animasse do interior. Serão os Ensaios o registro das digressões solitárias de um aristocrata e...