Marcos Roberto Nunes Costa*
RESUMO
Não obstante as dificuldades em precisar a data, local e verdadeiro nome Egéria, pois e até mesmo seu nome é construído a partir dos títulos que seus escritos receberam ao longo da história, pesquisas recentes apontam esta mulher como “a primeira escritora em língua latina da Idade média”, autora de uma importante obra conhecida por “Itinerarium ad Loca Sancta (Intinerário ou Peregrinação a Terra Santa), que como o próprio título indica é um “relato ou diário” de uma viagem (peregrinação) que a autora fez a Terra Santa. Mas, mais do que um simples relato de caráter pessoal, a referida obra apresenta-se como um manual de catequese, dirigido as comunidades religiosas de seu tempo, o qual traz em seu bojo uma visão de mundo, além de ser um documentário, por seu rico manancial de dados histórico-culturais e políticos das comunidades por onde passou. Bem como, a obra de Egéria é muito estudada hoje em dia por linguistas, por trazer elementos importantes para compreensão das origens e formação da língua latina arcaica.
PALAVRAS-CHAVE: Égeria, Peregrinação, Língua Latina.
PALAVRAS-CHAVE: Égeria, Peregrinação, Língua Latina.
Não se sabe exatamente em que data e onde viveu Egéria (ou Etéria) e até mesmo seu nome é construído a partir dos títulos que seus escritos receberam ao longo da história.
O que se sabe é que, por volta de 680, uma cópia [transcrição] de sua obra foi enviada aos monges da comunidade de São Pedro de Montes, fundada por São Frutuoso de Braga, em Bierzo, província de Astorga. No início do século XI, por razão desconhecidas, os manuscritos foram trasladados para o mosteiro de Montecassino, por Ambrósio Rastrellini, abade deste monastério de 1599 a 1602, finalmente, em 1810, no período das guerras napoleônicas, por questões de segurança, foram transportados para Biblioteca della Fraternità dei Laici, de Arezzo[1].
Ali - em Montecassino -, em 1884, os manuscritos foram redescobertos pelo italiano Gian Francesco Gamurrini, que a esta altura o já estava incompleto: faltando-lhe uma pequena parte inicial e uma grande parte no final[2]. Três anos depois, em 1887, o referido italiano fez a primeira publicação da obra, que apareceu com o título: Peregrinatio ad Loca Sancta S. Silviae Aquintanae ad Loca Sancta (Peregrinação de Santa Silvia de Aquitana a Terra Santa)[3]. Ou seja, a obra foi atribuída a Santa Silvia de Aquitana, que segundo Rosalvo do Valle era “irmã de Flávio Rufino da Aquitânia, gaulês, contemporâneo de Teodósio Magno, a qual nos fins do século IV teria feito uma peregrinação à Terra Santa”[4].
Mas, em 1903, a descoberta de uma carta[5] do referido monge Valerius de Bierzo aos monges de Montecassino, datada do século VII, o qual havia conhecido a cópia completa dos manuscritos na Comunidade de São Pedro de Montes[6], revelou a identidade da verdadeira autora[7], de forma que, em 1910, uma nova edição fora preparada, desta feita com o título: Peregrinatio [ou Itinerarium] Aetheriae ad Loca Sancta (Peregrinação [ou Viagem] de Etéria a Terra Santa), que com o passar dos tempos seriam abreviadas simplesmente por Itinerário (ou Viagem, ou Peregrinação) de Etéria (ou Egéria).
Entretanto, vale salientar, nos supracitados manuscritos o nome da autora é escrito de diversas formas, como, por exemplo, Etheria, Heteria, Egeria, Eiheria, Echeria, das quais prevalecem duas delas: Aetheriae e Egeria, “mas modernamente a forma Egeria tem logrado maior aceitação”[8], daí preferirmos esta nomenclatura aqui.
Se quanto ao nome da autora do Itinerário há controvérsias, mais ainda é quanto a sua origem familiar e posição social.
Quando a sua posição social, três elementos que se interligam levam os comentadores a falar de Egéria como “monja e/ou nobre”. Primeiro, por seu prestígio junto a Igreja institucional da época. Em seus relatos de viagens, Égeria mostra que por onde passava era muito bem acolhida nos mosteiros e pelas autoridades eclesiásticas: padres, bispos, etc[9]. Motivo pelo qual o monge Valerius de Bierzo, na supracitada carta aos monges de Montecassino (em 680), logo no início se referir a Egeria como uma monja, conforme vemos no trecho da referida carta, que diz:
Quando consideramos os feitos e virtudes de varrões fortíssimos e santos, consideramos mais digna de admiração a constantíssima prática da virtude na debilidade de uma mulher, a qual se refere a nobilíssima história da bem-aventurada Egéria, mais forte do que todos os homens do século […]. Esta bem-aventurada monja Egéria, inflamada pelo desejo da divina graça e ajudada pela virtude da majestade do Senhor, empreendeu com intrépido coração e com todas as suas forças uma longuíssima viagem por toda a região...[10].
A partir daí, quase todos os comentadores falam com a maior naturalidade de Egéria como uma monja[11], mas, ressalva Maria Rosa Cid López, há quem discorde de que ela fosse uma monja, como é o caso de Hagith Sivant, para quem
não é fácil aceitar que uma mulher, celibatária, com deveres no monastério, pudesse viajar e estar fora por tanto tempo, gozando de tal liberdade de movimentos. A situação seria ainda mais estranha no caso de se tratar de uma abadessa. Precisamente, esta larga permanência fora de seu lugar e da facilidade com que se trasladava leva a pensar em uma mulher não atada por votos religiosos[12].
Já Maria da Glória Novak, em sua introdução à tradução brasileira, pondera as posições opostas, ao dizer:
Não há certeza de que Etéria fosse monja, apesar da indicação de Limonges. Valério diz virgo e sanctimonialis (1,2; 4,4); objeta-se que não haveria monjas na Galiza no século IV, mas, na verdade, parece que havia lá virgens consagradas a Deus, e virgo e sanctimonialis tanto podem referir-se a monjas como às virgens leigas consagradas à vida ascéticas[13].
Monja ou não, no sentido restrito da palavra, o certo é que Egéria estava ligada a um certo grupo de mulheres religiosas, as quais são as destinatárias diretas de seus escritos, pois por diversas vezes fala de algumas “domnae – senhoras”, a quem dirige suas palavras, com as quais tem certo compromisso religioso, de forma que, caso viesse a falecer antes de retornar, seus escritos deveriam ser destinados a elas. Isto vemos claramente no seguinte trecho do Itinerarium ad loca sancta:
Daí, senhoras, minha luz, dedicando à vossa bondade esta narrativa, era já meu propósito, em nome de Cristo, nosso Deus, dirigir-me à Asia - a Éfeso, para rezar no martyrium do santo e bem-aventurado apóstolo João. Se, depois disso ainda estiver viva e ainda puder conhecer alguns outros sítios, eu mesma, se Deus se dignar permitir, os descreverei a vossa bondade; ou, ao menos, se decidir outra coisa, vo-lo comunicarei por escrito. Vós, senhoras, minha luz[14], dignai-vos lembrar-vos de mim, quer eu esteja neste corpo ou fora dele (2Cor 12,2-3)[15].
Portanto, há um claro compromisso religioso para com certas “domnae – senhoras”, que não eram necessariamente monjas[16], o que dá um caráter epistolar ao Itinerarium ad loca sancta, conforme palavras de Alexandra B. Mariano, em sua introdução à tradução portuguesa desta obra:
Uma característica do Itinerário, facilmente deduzida a partir da leitura, é a forma marcadamente dilogística do discurso, que o aproxima, em termos de estrutura, do registro epistolar ou para-epistolar e que pressupõe a existência de um eu que se dirige a um tu/vós (Vos 23,10), destinatário ausente mas real. No caso preciso, o texto é dirigido a um grupo de mulheres (domnae/dominae), com quem existe uma relação próxima, que a narradora insiste em explicitar […][17].
E este é o principal motivo da viagem de Egéria: levar a suas “irmãs” o testemunho ocular dos lugares santos, uma missão que ela própria acredita ser o fruto de uma inspiração divina.
Quanto ao outro ponto - sua nobreza, inferi-se, primeiro, pelo questionamento de como uma mulher dispunha dos recursos necessários para empreender longas viagens[18], pois, como observa Alexandra de Brito Mariano, “uma viagem de tal envergadura exigiria, certamente, a mobilização de meios consideráveis, mesmo segundo os padrões da nossa época”[19], a não ser que fosse de família aristocrata, e, segundo, pelo apoio que recebia das autoridades imperiais, que lhe colocavam a sua disposição casa e até soldados romanos para auxiliar-lhe nas viagens, conforme consta em seus relatos de viagens:
Há, pois, de Clisma - isto é, do Mar Vermelho - até à cidade de Arábia, quatro pousadas através do deserto: tanto é de fato pelo deserto, que há, em cada acampamento, um posto com soldados e oficiais que nos acompanharam, sempre, de um forte a outro[20].
E mais adiante diz:
A partir daí, dispensamos os soldados que nos havia auxiliado em nome dos príncipes romanos, enquanto andáramos por regiões perigosas; agora, porém, visto que a estrada que atravessa a cidade de Arábia, isto é, a que conduz da Tebaida a Pelúsio, é pública através do Egito, não mais se fazia necessário molestá-los[21].
Portanto, como conclui Rosa Maria Cid López:
Egéria devia pertencer aos grupos aristocráticos e possuir uma fortuna considerável, absolutamente imprescindível para empreender uma viaje com estas características [...]. De igual maneira, se alude ao fato de ser recebida pelas autoridades eclesiásticas, e não só por monges, ou o fato de receber a proteção de destacamentos militares [...].Tudo isso não seria mais que a manifestação evidente de sua elevada posição social[22.
Tal era o prestígio de Egéria junto à Igreja e ao Império, que José Eduardo López Pereira chega a se perguntar:
Monja ou não, contando com tantos meio a sua disposição, não seria da família de Teodosio, que naqueles anos era Imperador, galego de origem, segundo nos recorda o historiador quase contemporâneo, Hidacio, bispo de Chaves? Alguns investigadores, como A. Lambert, a supõe irmã de Gala Plácida, a mulher de Teodosio. Outro, E. Bouvy, partindo da forma Eucheria do nome, a considera relacionada com Eucherius, um tio de Teodosio[23].
Outro ponto controverso na história de Egéria é quanto ao local em que nasceu e viveu - sua pátria -, de forma que
foi tida como francesa, italiana ou hispânica, ainda hoje os mais e mais fortes argumentos levam a pensar que era originária da Gallaecia, segundo o espaço que compreendia no século IV esta província romana, antes da reforma de Deoclesiano, que chegava desde o Sul até o rio Duoro e se alargava pelo Leste, seguindo a linha deste rio, até terminar no mar Cantábrico, limitando com o País Basco [...] por isso quando dizemos que Egéria era uma escritora galega, há que se entender dentro da divisão territorial da época em que viveu, já que bem poderia ser da zona de Astorga ou de Braga, onde estavam os dois centros culturais mais importantes do momento, o que poderia explicar que no século IV, no ‘finis terrae’, possa viver uma mulher capaz de escrever em latim[24].
Relacionada à questão do período em que viveu, está a dificuldade de datação da viagem/escrita da obra de Égéria, tendo sido levantadas várias hipóteses, algumas das quais apresentaremos aqui, em ordem decrescentes:
A data mais tardia, entre 533-430, fora defendida por Karl Meister, que influenciará, mas tarde, Bruyne (1909)[25]. Já “Aimé Lambert (1938) propõe 414-416 e Dekkers 415-418 (1948), na tentativa de conciliar estes anos com a celebração do quadragésimo dia depois da Páscoa em Belém”[26]. Dom Férotin e Dom Leclerq, defendem que a “a viagem se faria relizado por volta de 395-396, e não depois disso uma vez que Etéria não menciona orignismo, heresia derivada do priscilianismo e logo depois difindida na palestina”[27]. “A. Baumstark foi o primeiro a avançar as balizas cronológicas de 383-385, mas é com Paul Devos[28] que a data do último ano da viagem é fixada em 384”[29].
Finalmente, mais um porto controverso acerca de Egéria é quanto a sua capacidade intelectual, ao ponto de se colocar em questão o fato do Itinerarium Egeriae (Viagem de Egeria) ter sido escrito por uma mulher “capaz de escrever em latim”[30]. Mais do que isso, e já respondendo a questão, não só escreveu em latim, mas, segundo José Eduardo López pereira, foi a primeira escritora em língua latina da Idade Média:
Falar de Egéria escritora latina, quase nos permite falar da primeira mulher que escreve em latim, cuja obra chegou até nós, porque muito pouco há de Proba no Cento virgilianus que ela escreveu, e muito pouco também de Perpetua no Passio Perpetuae[31].
Muito embora alguns comentadores acusem de se tratar de um “latim vulgar”, ponto este que geraria longos e intermináveis debates entre os linguistas e/ou latinistas ao longo dos tempos, e que, por ser um assunto muito técnico, não entraremos no mérito da questão aqui, mas tão somente indicar alguns trabalhos que tratam da questão[32].
Afora as controvérsias até aqui elencadas, o certo é que “o texto é o segundo testemunho escrito de uma peregrinação ao Oriente (viagem empreendida cerca de 50 anos depois da do peregrino de Bordéus, que já referimos[33]) e o primeiro que se conhece redigido por uma mulher”[34]. A primeira parte, com 23 capítulos (I-XXIII), descreve os lugares sagrados e pontos geográficos em suas viagens, e está dividido em quatros etapas da viagem:
1ª) Peregrinação ao Monte Sinai e a volta a Jerusalém (cap. I-IX);
2ª) Subida ao Monte Nebo (X-XII);
3ª) Saída de Jerusalém e visita ao túmulo de Jó, em Cárneas ou Denaba, cidade de Ausítide (XIII-XVI);
4ª) Depois de três anos em Jerusalém (cf. XVI,7 e XVII,1), peregrinação à Mesopotamia Syriae (XVI-XXI) e o regresso a Constantinopla, de onde partira (XXI-XXIII)[35].
Na segunda parte, 26 capítulos (XXIV-LIX), Egéria detalha as práticas litúrgicas e eclesiásticas da Igreja em Jerusalém, onde
não faltam informações sobre os santuários, numerosos, e alguns suntuosíssimos, construídos principalmente nos ‘lugares sagrados’ e onde se realizaram as cerimônias acima referidas: a Basílica do Santo Sepulcro (com a Anastasis, o Calvário e o Martiyrium ou Ecclesia Maior), o santuário do Cenáculo de Sião, os três santuários do Monte das Oliveiras (Imbomon, Eleona e Getsemani), a basílica de Belém e duas igrejas na Betânia, uma das quais é a chamada Lazarium[36].
E a julgar pela linguagem e fundamentação bíblica encontrada na obra, tudo leva a crer que sejam verdadeiras as hipóteses de que Egéria fosse realmente uma mulher culta, o que leva Rosalvo do Valle a concluir: “O certo é que dessa peregrinação de cerca de três anos essa mulher satis curiosa nos legou uma preciosa fonte de informações linguísticas, históricas e litúrgicas”[37]. Ou seja, ao narrar suas viagens, Egéria acabou por fazer História, pois, como ressalta Gilberto Figueiredo Martins, suas recorrentes referências aos monastérios e igrejas, seus depoimentos sobre as práticas religiosas ocorridas nestes locais, etc.,
além de auxiliarem futuros peregrinos em suas viagens [...] acabam por fornecer informações essenciais acerca da situação na qual, à época, encontravam-se os lugares e monumentos bíblicos. Por isso, os comentadores têm destacado a importância central do relato da Peregrinação de Etéria para o conhecimento histórico dos percursos e percalços da expansão da fé cristã na Idade Média[38].
Além disso, os escritos de Egéria revelam que ela tinha um grande conhecimento das Sagradas Escrituras, cuja versão, pelas citações que fez em seu diário, para a comentadora Maria da Glória Novak, “assemelhava-se mais a uma das versões latinas partidas da Septuagenta, portanto à Vetus Latina, do que à Vulgara, que São Jerônimo traduziu pelos fins do século IV. Por outro lado, estudos minuciosos levam à afirmação de que a peregrina conhecia também uma tradução latina do Onomastikon de Eusébio”[39].
REFERÊNCIAS
CID LÓPEZ, Rosa Maria. Egeria, peregrina y aventurera: relato de um viaje a Tierra Santa en el siglo IV. ARENAL, v. 17, n. 1, p. 5-31, 2010.
COELHO, Maria Filomena. Viagem e peregrinação na antiguidade tardia: narrativa do conhecido. Projeto História – Revista da Pós-graduação em História da PUCSP. São Paulo, v. 42, p. 331-349, 2011
DEVOS, Paulo. La data du voyage d’Égeria. Analecta Bollondiana, v. 85, p. 165-194, 1967.
EGÉRIA. Peregrinação de Egéria: liturgia e catequese em Jerusalém no século IV. Trad. de Maria da Glória Novak. Comentário de Alberto Beckhãuser. Petrópolis: Vozes, 1977. 127 p.
______. Viagem do Ocidente à terra Santa, no séc. IV (Itinerarium ad loca sancta). Estudo e tradução de Alexandra M. L. B. Mariano e Aires A. Nascimento. Lisboa: Edições Colibri, 1998. 283 p.
______. Intinerario de la virgem Egeria (381-384); Constatinopla – Asia Menor – Palestina – Sinai – Egito – Arabia. Edicion critica del texto latino, variantes, tradución anotada, documentos auxiliares, planos y notas por Agustín Arce. Madrid: La Editorial Católica/BAC, 2010, p. 360 p.
FREIRE, José Carlos. A proximidade de um texto – três notas sobre a origem de Egéria: accedere, collun, pullus. In: Actas do Colóquio sobre o Ensino de Latim. Lisboa: Faculdade de Letras, 1987, p. 173-282
LIMA, Filomena. Viajar no feminino: as imagns das palavras – peregrinação de Egéria à Terra Santa – no século IV. In: LOPES, Maria José et al. (orgs.). Narrativas do poder feminino. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2012, p. 239-257.
LÓPEZ PEREIRA, José Eduardo. Egeris, primera escritora y peregrina a Tierra Santa. In: GONZÁLEZ PAZ, Carlos Andrés (ed.). Mujeres y peregrinación em la Galicia medieval. Santiago de Compostela: Instituto de Estudios Gallegos, 2010, p. 39-54 (livro da FLUP)
MARIANO, Alexandra de Brito. In eo quod amatur aut non laboratur aut et labor amatur: esforço e satisfação no Itinerarium de Egéria. In: NOGUEIRA, Adriana Freire. Otium et regotium: as antíteses na antiguidade. Actas do IV Colóquio da APEC. Lisboa: Nova Veja, 2007, p. 121-131.
MARTINS, Gilberto Figueiredo. A narrativa da peregrinação – experiência e forma (uma leitura do Itinerarium Aetheriae). Kalíope. São Paulo, ano 7, n. 14, p. 07-15, 2011.
MIEIRO, David Manuel Martins. Ecclesia in strata: a peregrinação de Egéria como itinerário espiritual. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, 2013, 125 f. Dissertação (Mestrado em Teologia).
OLIVEIRA, Rosa Manuela Barbosa. O itinerário de Egéria (séc, IV): olhares sobre um olhar. Lisboa: Universidade Aberta, 2014, 98 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Portugueses Multidisciplinares).
PASCUAL, Carlos. Egeria, la Dama Peregrina. Arbor, v. CLXXX, 711-712, p. 451-464, 2005.
RITTER-GREPL, Angelika. La peregrinación de Egeria. Ordo Equestris Sancti Sepulcri Hierosolymitani. Ciudad del Vaticano, p. 35-37, 2010.
VALLE, Rosalvo do. Considerações sobre a Peregrinatio Aetheriae. Rio de Janeiro: Botelho Editora, 2008. 178 p. CD-ROM.
AUTOR
*Marcos Roberto Nunes Costa - Doutor em Filosofia pela PUCRS, Pós-doutorado em Filosofia pela Universidade do Porto. Professor da Graduação e Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Filosofia da UFPE. E-mail: marcosnunescosta@hotmail.com
[1] Cf. a introdução à tradução brasileira: NOVAK, Maria da Glória. Intodução. In: EGÉRIA, 1977, p. 9-10 e VALLE, 2008, p. 30.
[2] A esse respeito diz Maria Filomena Coelho: “Esta é a primeira impressão que chegou até nós do itinerarium que Egéria percorreu na Terra Santa, entre os anos 381 e 384 d.C. O manuscrito que registra as memórias da viagem desta mulher, infelizmente, não sobreviveu na sua forma integral e hoje acredita-se que se tenham perdido cerca de dois terços. Não sabemos ao certo de onde ela saiu, quais são as suas origens, o que a empurrou à peregrinação. Devido ao desaparecimento da primeira parte do manuscrito, subimos a bordo da memória de Egéria já em plena caminhada, no meio da península do Sinai” (2011, p. 353).
[3] Cf. CID LÓPEZ, 2010, p. 11.
[4] VALLE, 2008, p. 32 e CID LÓPEZ, 2010, p. 11.
[5] A referida carta foi descoberta por Dom Mário Férotin que levou ao público num artigo: “Le véritable auteur de la Peregrinatio Silviae, la vierge espagnole Éthérie. Revue des Questions Historiques, v. 74, p. 367-397, 1903 – pondo em dúvida a autoria de Silvia até então aceita” (NOVAK, Maria da Glória. Intodução. In: EGÉRIA, 1977, p. 10).
[6] Segundo Rosa Manuela Barbosa Oliveira, Valerius “morreu em 695, no mosteiro de S. Pedro dos Montes, onde viveu uma vida monacal e de eremita, durante mais de quarenta anos” (2014, p. 70), justamente o mosteiro onde havia uma cópia completa dos manuscritos de Égeria, os quais foram transferidos depois para outos ligares até se fixar definitivamente na Biblioteca della Fraternità dei Laici, de Arezzo.
[7] Ou seja, “muito antes de Gamurinni descobrir, em 1884, o Códice de Arezzo, já sabíamos que uma dama da ‘Provincia Gallaeciae’, no noroeste da Espanha, havia percorrido, durante três anos, no século IV, os países que hoje chamamos Oriente Próximo, e que nos havia deixado a descrição desses países num Itinerarium que um monge de Bierzo, Valério, da mesma região da Espanha, que teve entre suas mãos, no século VII, dando-nos a conhecer pela primeira vez a exitênciadesse Itinerarium e o nome de sua aurora” (ARCE, Agustín. Prologo. In: EGERIA, 2010, p. XIII). Cf. também, FREIRE, 1987, p. 273-274. Mas, como ressalva David Manuel Mieiro, ainda ssim há quem continua com a nomemclaruta antiga, como é o caso de Jarecki, que “continuava a dizer que Egéria ou Etéria não era uma figura histórica. permanecendo na ideia primordial de que seria Sílvia ou Silviana. A sua ligação a altas autoridades, como o imperador Teodósio, e o facto de ter feito uma peregrinação aos lugares santos, em meados do século IV, induz imediatamente a ela como autora [...]. Vingará a novidade, melhor fundamentada, de que Egéria é a verdadeira autora do itinerário” (2013, p. 41-42).
[8] VALLE, 2008, p. 34.
[9] cf. por exemplo, EGERIA. Peregrinação de Etéria. XIX, 5, 1977, p. 69-70, que diz: “O santo bispo da cidade, homem verdadeiramente religioso, monge e confessor, disse-me, acolhendo-me de boa vontade: ‘vejo, filha, que pela religião te impususte tão grande labor que, dos confins da terra, chegaste a estas paragens; se, pois, te der prazer, nós te mostraremos todos os lugares que são, aquí, agradáveis de ver para os cristãos’. Então, pois, dando graças a Deus em primeiro lugar, e também a ele, pedi-lhe muitíssimo se dignasse fazer o que dizia”.
[10] VELERIUS de Berza. Epistola laude Etheriae virginis, 1.10.11 In: EGERIA, 2010, p. 9 (grifo nosso).
[11] LIMA, 2012, p. 240, diz: “No século IV, há uma mulher a percorrer um Itinerrium escrito em forma de carta, num diálogo conservado em letras. É a viagem realizada pela monja Egéria desde a província romaa da Gallaecia até à Terra Santa”.
[12] SIVANT apud CID LÓPEZ, 2010, p. 25.
[13] NOVAK, Maria da Glória. Intodução. In: EGÉRIA, 1977, p. 12.
[14] O expressão “lumnen meum – minha luz”, que aparece aqui por duas vezes, é substituída em outros momentos por outros termos igualemente afetuosos, como: “venerabilis soroles – veneráveis irmãs” (III, 8) e “dominae animae meae – senhoras de minha alma” (XIX, 19), que denotam sempre proximidade, respeito, compromisso, etc.
[15] EGERIA. Peregrinação de Etéria. XXIII, 10, 1977, p. 79.
[16] PASCAL, 2005, p. 452, observa que, “falar da monja Egeria (perdão por adiantar o nome, rompendo a intriga) é um despropósito. Pela expressão reiteradamente empregada dominae et sorores, não pode deduzir-se que se trata de monjas - e desde logo, o contexto geral é outro, como em seguida veremos -. Desde muito antes de que nascera Egéria, a expressão soror, empregada coloquialmente, tinha uma mera conotação de efeto [...]. A interpelação a umas dominae et sorores havia de traduzir-la, para ser fierl ao espírito da letra, como ‘respeitáveis amigas’, ou ‘queridas amigas’”.
[17] MARIANO, Alexandra B. Intodução. In: EGÉRIA, 1998, p. 16-17. Nesta intodução a comentadora insister, por diversas vezes, no caráter epistolar na obra de Egéria.
[18] A comentadora Angelika Ritter-Grepl, diz que, “partiendo desde o norte da Espanha e dirigindo-se até o Oriente, desde o ano 381aol 384 percorreu cerca de 9.000 kilômetros por terra, atravessando o continente até Constantinopla, para chegar depois aos lugares da Biblia. todos los lugares indicados en su guía, la Biblia. Durante um tempo se fixou em em Jerusalén, logo prosseguiu a peregrinação até o Egito e subiu ao Monte Sinai. Por último, chegou ao lugar mais ao leste do seu itinerário, ou seja, ao Harán, na Siria, pátria de Abraham” (2010, p. 35).
[19] MARIANO, 2007, p. 121.
[20] EGÉRIA. Peregrinação de Egéria. VII, 2, 1977, p. 53.
[21] Ibid., IX, 3, 1977, p. 56.
[22] CID LÓPEZ, 2010, p. 24. Mas a própria comentadora ressalta que outros autores, e cita o caso de Hagith Sivant, “têm questionado a pertência de Egéria a tais círculos da elite social, baseando-se no latim que utilizava, muito popular, e não próprio das mulheres da aristocracia do momento. Por sua vez, se enfatiza que não conhecia o grego, o que seria estranho para uma dama bem educada da época” (SIVANT apud CID LÓPEZ, 2010, p. 24-25).
[23] LÓPEZ PEREIRA, 2010, p. 47. Cf. também CID LÓPEZ, 2010, p. 21, que diz: “Por razões das conotações um tanto patrióticas, Egéria tem sido apresentada como uma mulher galega, de elevada posição social, ao que se buscou, inclusive, parentesco com a família de Teodosio”. O franciscano Agustín Arce, por exemplo, destaca o parentesco, mas enfatiza os laços de amizade ao dizer, inclusive, que “podemos, pois, supor que Teodósio e Egéria partiram juntos do NO da Espanha: Teodósio para defender o Império contra os bárbaros invasores; Egeria para venerar os santuários da Palestina e visitar os monastérios de Siria e Egipto” (ARCE, Agustín. Introdución. In: EGERIA, 2010, p. 9).
[24] LÓPEZ PEREIRA, 2010, p. 44. Cf. também, NOVAK, Maria da Glória. Intodução. In: EGÉRIA, 1977, p. 11 e MARIANO, Alexandra B. Intodução. In: EGÉRIA, 1998, p. 28-31.
[25] Cf. MIEIRO, 2013, p. 45.
[26] Ibid.
[27] NOVAK, Maria da Glória. Intodução. In: EGÉRIA, 1977, p. 12.
[28] Cf. DEVOS, Paulo. La data du voyage d’Égeria. Analecta Bollondiana, v. 85, p. 165-194, 1967.
[29] MARIANO, Alexandra B. Intodução. In: EGÉRIA, 1998, p. 16-17.
[30] Ibid., p. 44.
[31] Ibid., p. 45
[32] Dentre os estudiosos mais importantes, indicamos aqui apenas três, para falar apenas de linguistas brasileiros: BECHARA, Avanildo. Estudos sobre a sintaxe nominal na Peregrinatio Aetheriae. Trabalho apresentado para o concurso de provimento da Cátedra de Filologia Românica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Estado da Guanabara, Rio de Janeiro, 1963, 45 p. ; Idem. A carta de Valério sobre Etéria. Revista Romanitas. Rio de Janeiro, v. 6-7, 1965 e FONDA, Enio Aloisio. A síntese orgânica do “Itinerarium Aetheriae”. Assis: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, 1966, 190 p., que foi sua tese de doutoramento em Língua e Literatura Latina, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1961. E mais recentemente, a tese de livre-docência, despois publicada: VALLE, Rosalvo do. Considerações sobre a Peregrinatio Aetheriae. Rio de Janeiro: Botelho Editora, 2008, especialmente o capítulo II - O latim da Peregrinatio Aetheriae (p. 47-70) e a dissertação defendida no Mestrado em Liguistica da UNICAMP: MARTINS, Maria Cristina da Silva. Os locativos na Peregrinatio Eatheriae. Campinas: UNICAMP, 1996. 139 p. Igualmente há estudos acerca de Égeria que a analisam à luz de uma visão “feminista”, buscando encontrar em seus eecritos traços de uma “escrita feminina”, mas que não entraremos no mérito da questão aqui. Para um maior aprufundamento desta questão indicamos os artigos: LIMA, Filomena. Viajar no feminino: as imagns das palavras – peregrinação de Egéria à Terra Santa – no século IV. In: LOPES, Maria José et al. (orgs.). Narrativas do poder feminino. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2012, p. 239-25 e PACHECO, Maria Cândida Monteiro. Itinerarium ad loca sancta, de Egéria: uma escrita feminina? In: FERREIRA, Maria Luísa Ribeiro (org.). Também há mulheres filósofas. Lisboa: Editorial Caminho, 2001, p. 71-82.
[33] O texto a que se refere aqui é o Itinerarium Burdigalense, escrito cerca de 50 anos antes de Egéria.
[34] MARIANO, 2007, p. 122. A mesma comentadora acrescenta que antes de Egéria, “conhecem-se, é certo, outras damas que teriam empreendido peregrinações ao Oriente. Destacamos, por exemplo, Melânia-a-Velha viúva de um prefeito de Roma, em 373 (Jerónimo, Epist., 4 – PL, t. 22, col. 336), Paula de uma nobre família romana e Eustóquio, em 385 (Idem, Epist., 108 – PL, t. 22, col. 878-906) e Poemenia, parente de Teodósio,em 390 (Paládio, Hist. Laus., 35 – PL, t. 74) (p. 122, nota 4), mas nenhuma delas escreveu suas experiências de viegens, já são conhecidas pelos relatod de outros.
[35] Cf. VALLE, 2008, p. 26-27.
[36] Ibid., p. 28-29.
[37] Ibid., p. 38.
[38] MARTINS, 2011a, p. 12.
[39 NOVAK, Maria da Glória. Intodução. In: EGÉRIA, 1977, p. 14.
FEIRA DE SANTANA-BA | nº 6 | vol. 1 | Ano 2017
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